Famílias 3.0
10 de Outubro de 2024
Artigo de opinião de Bárbara Figueiredo no Diário de Coimbra
A era digital transformou radicalmente a forma como vivemos. Ora, as famílias, e a forma como vivem e convivem, tanto entre si como com as novas tecnologias, não foram excepção.
De facto, as novas tecnologias, inicialmente restritas a poucos, fazem agora parte do dia a dia de milhões de pessoas, nomeadamente das mais jovens. Essa nova realidade traz consigo uma série de desafios e oportunidades, que exigem uma reflexão cuidadosa sobre o papel da tecnologia nas relações familiares.
Num mundo cada vez mais globalizado, as novas tecnologias vieram facilitar a comunicação, encurtando distâncias e camuflando saudades. Vídeo chamadas, mensagens e telefonemas rápidos e baratos permitem que pais e filhos, ou outros familiares, se mantenham conectados, fortalecendo laços afetivos que, de outra forma, se poderiam ir fragilizando com o distanciamento físico. Além disso, a internet oferece um vasto universo de conhecimento, permitindo que crianças e adolescentes – e também adultos – aprendam de forma mais dinâmica e personalizada.
Mas, como sabemos, nem tudo são rosas, já que o excesso de tempo dedicado a ecrãs pode levar ao sedentarismo, à dificuldade de concentração e à diminuição da interação social face a face. Assim, se, por um lado, as novas tecnologias ajudam a reforçar laços em cenários de distanciamento geográfico, já nos casos em que existe proximidade, e até partilha de habitação, podem contribuir para enfraquecer as relações afectivas. Por outro lado, não podemos deixar de referir os perigos de exposição a conteúdos inadequados, falsos bem assim como o cyberbullying, que se apresentam como riscos reais para crianças e adolescentes.
Com este enquadramento, os pais (ou os adultos) desempenham um papel fundamental, devendo estabelecer limites claros para a utilização das novas tecnologias, monitorizar as atividades online dos filhos e manter um diálogo aberto sobre os riscos e benefícios da internet. Além disso, é importante incentivar atividades offline, como brincadeiras ao ar livre, leitura e convivência familiar.
Nas situações de divórcio, as novas tecnologias assumem um papel cada vez mais relevante, nomeadamente nos casos em que existam filhos menores, permitindo, por exemplo, a comunicação rápida e eficaz destes com o progenitor com quem não estão a pernoitar. Mas também trazem os seus desafios, apresentando-se cada vez mais como um dos factores de litígio entre os pais agora desavindos, seja por existir desacordo quanto à necessidade de os menores terem telemóvel, seja na própria gestão do tempo que as crianças passam on – line, seja, até, sobre a possibilidade de partilha de fotos dos menores nas redes sociais.
Como em tudo, também as novas tecnologias clamam por bom senso, com uma utilização prudente, segura, equilibrada e consciente dos desafios que implicam, principalmente quando estejam em causa menores, para que as possamos aproveitar da melhor forma.